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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Contraste

Com licença, um contraste bem passado por favor. Comerei aqui mesmo, podemos conversar enquanto isso, caso não tenha outros contrastes a serem servidos. Olhando para o prato de súbito percebi: era possível comer esse prato? Opostos que desceriam goela adentro, misturando-se numa massa pastosa no estômago. Dentre os extremos, fica o humano para deglutir e redistribuir pelo pulsar de veias contraídas, entupidas ou relaxadas ao som do sangue refém do bombear de corações entre a renda bordada de pontos tristes e alegres.

Mas nós brigamos tanto ou são os argumentos que tornam-se demasiadas pastas de vida própria, enquanto assistimos bastante afastados um do outro o embate? Acalme tudo isso, desligue todas essas luzes, vamos sair dessa sala, no final ainda continuamos humanos. Continuar humano. Observe as últimas partes dessas palavras. Amo(s) ano(s). Amor é tempo. Tempo é amor.

Veio queimado: era uma panqueca. Pode trocar? Não, todas são assim. Esse é o ponto do prato. Coma que a vida está aí nessa panqueca queimada. Traga-me um suco de laranja, por favor. Tragar você? Não entendi a última parte. Suco de laranja, por favor; não vou aguentar comer assim. Saindo em 3 minutos. Costumam associar o amor ao açúcar, acho que deve ser por isso. Depois dei um bom dia com a boca com pedacinhos amargos de panqueca e doces dos gomos de frutose da laranja.