Com licença, um
contraste bem passado por favor. Comerei aqui mesmo, podemos conversar enquanto
isso, caso não tenha outros contrastes a serem servidos. Olhando para o prato
de súbito percebi: era possível comer esse prato? Opostos que desceriam goela
adentro, misturando-se numa massa pastosa no estômago. Dentre os extremos, fica
o humano para deglutir e redistribuir pelo pulsar de veias contraídas,
entupidas ou relaxadas ao som do sangue refém do bombear de corações entre a
renda bordada de pontos tristes e alegres.
Mas nós brigamos tanto
ou são os argumentos que tornam-se demasiadas pastas de vida própria, enquanto
assistimos bastante afastados um do outro o embate? Acalme tudo isso, desligue
todas essas luzes, vamos sair dessa sala, no final ainda continuamos humanos. Continuar
humano. Observe as últimas partes dessas palavras. Amo(s) ano(s). Amor é tempo.
Tempo é amor.
Veio queimado: era uma
panqueca. Pode trocar? Não, todas são assim. Esse é o ponto do prato. Coma que
a vida está aí nessa panqueca queimada. Traga-me um suco de laranja, por favor.
Tragar você? Não entendi a última parte. Suco de laranja, por favor; não vou
aguentar comer assim. Saindo em 3 minutos. Costumam associar o amor ao açúcar,
acho que deve ser por isso. Depois dei um bom dia com a boca com pedacinhos
amargos de panqueca e doces dos gomos de frutose da laranja.