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sábado, 23 de março de 2013

Little Boxes

Passo 1:

- Pegue as suas emoções e as embale dentro de uma caixinha.

Use esse segredo quando:

x O momento for inapropriado para usar a emoção.
x Não puder usar a emoção no momento.

CUIDADO. PERIGO:

x Jamais se esqueça de abrir a caixinha na hora que puder.

Resultado:

- Você amadureceu.

sexta-feira, 22 de março de 2013

orgânico

ORGÂNICO
OR GÂ GÂ GÂ NI CO
ORGANIZAR
ORG ANIZAR ANIZAR ANIZAR
agonizar

ORGASMO
ROGAS?

ORGÂNICO
TUNICO
penico

sexta-feira, 15 de março de 2013

produção em madrugada de aniversário

Escrevo enquanto os últimos minutos do cronologicamente social relógio de meus anos de vida vão se formatando para começar pela décima nona vez a contagem de mais um ano de experiência social.

Discorrer em palavras os sentimentos de uma datação que muitas vezes é corriqueira para tantas pessoas torna-se para mim uma referência mais densa e energeticamente propensa a situações ambivalentes. Melhor mesmo é escrever mais um conto sobre a vida de pessoas imaginadas mas com todo o sentimento real posto nessas vidas.

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As gotas pingavam na pia de Aldernatur. Muito embora almas desconhecidas daquele contexto tendam a pensar que o nome de nosso homem seja o nome ou a marca [que não deixa de ser um nome] da pia, a verdade é que aquele era realmente o nome da pessoa de cabelos agrisalhados em curvas louras, amarronzadas com borrifamentos de cinza cimento. E ele se olhava no vidro acima do gotejamento aquífero que o fizera perder o sono: sorria para a face inchada e refletida naquele espelho que encontrara no exato canto que ali estava quando se mudara para a casa que abrigava o objeto de vidro e espelho.

Podia perceber a vastidão de curvas que dançavam em seu rosto quando sorria. Seus dentes ainda eram os mesmos, a brancura se fora sem sinal de volta. Um quadro honroso era esse casamento entre as rugas e os dentes sem brancor. Tudo isso de rosto era seu, conquistado aos poucos pela adrenalina dos dias das novas entrevistas de emprego, pelo fulgor da quarta conquista em vida adulta, pela saudade de quem não sabe se as outras pessoas olham as cores do mundo com as mesmas cores que seus olhos veem o mundo, cada  rosa dessa, esmaecida dentro de livros, eram suas, ele as tinha em seu acervo para aplicá-las à situação que quisesse. Era o que tinha, o que o capacitava. Essas experiências tinham lhe provado que viver é antes de mais nada caminhar e é por isso que tem gente viva que não vive, aqui na terra. 

Noite de desassossego. Aldernatur gostava dessa palavra cheia de 'esses' e de vogais que pareciam casadas, era um casamento harmonioso entre a vogal e a consoante. Da noite, não falava. Era apenas mais uma e a beleza estava em seu momento pois gostava desse período ausente de muita luz. Olhando em seus cílios a noite continuava de desassossego, repetia: desassossego. A palavra tinha uma certa magia para ele já que a tinha visto nua pela primeira vez ao bebê-la nas palavras de Pessoa. Mais especificamente no título do livro do poeta e apenas só. Se tinha lido algum vocábulo do interior da obra, à memória fugia. O título da criação de Fernando Pessoa é que realmente o tinha chamado a atenção: Livro do desassossego.  Um outro livro de palavras chamava a composição de letras de inquietação, pertubação, agitação - eram muitos 'ãos' que na mente de Aldernatur nada significavam perante as reverberações de acalanto que aquela palavra tinha.  Para nosso homem a palavra tinha mais sossego que inquietação, era um sossego que por momento estava agitado, mas que logo voltaria a situação normal de calmaria. Aldernatur era a palavra do dicionário e do livro do poeta e do próprio [ou de algum] Aldernatur. O que o mais fascinara, além da sonoridade da palavra, era o fato de que mesmo em momentâneo agitamento a inquietação continuaria apesar da promessa de tranquilidade, era um [des] .a. sossego. A noite portanto, era de desassossego.

O barulho inquietante continuava. As gotas paridas instantaneamente da torneira com pia preta estavam lá escorrendo o seu prenúncio de águas mais abundantes ou seu cessar de gotas tensionadas. Seus cabelos caiam sobre sua testa que reluzia a mesma oleosidade de quando o coração lhe subia à boca. Olhou o pingar da água por mais cinco segundos, até que com suas mãos em saliência de veias e unhas compridas postas também em dedos compridos fechou a torneira. O gozo lhe veio como o cessar de urina acumulada em horas de impossibilidade de excremento do líquido. Voltara-se para o espelho.

Quem via? O rosto intumescido de sangue por causa do breve cochilar em que a cama e o travesseiro o colocara, mas que tinha sido rompido pelo barulho da mãe-torneira. Agora que voltara para sua plataforma de voo [a cama e o travesseiro] a consciência do dever de prosseguir o tomara novamente. É que o menino que suas células negavam, o menino chamado de senhor pelos desconhecidos estava pensando sobre a continuidade a partir de onde estava. A idade já se apresentava como um incômodo físico para Aldernatur e isso começara a defrontá-lo com o saber que ao longo das vidas ludibriamos debaixo dos lençóis, a morte. A certeza de que mais cedo ou mais tarde deixaremos a roupagem feita de carne e osso falava-lhe em preces baixas. 

Necessário caminhar firme; mas a direção que tantas vezes tomou de súbito a fieldade de Aldernatur escapava-lhe no ponto atual de sua vida.  A direção o tinha esquecido - essa era uma pergunta que fazia-se em momento de prece alta. A resposta lhe surgia com a consulta no seu acervo de rosas esmaecidas:  ele esquecia que direção não é usada em companhia de definição; na verdade ele que tinha esquecido uma das direções possíveis. Mas em todas elas, e a vivência lhe comprovava, o amor estava como um amigo que te traz duas cervejas numa festa de bebidas que não te apetecem.

Então, vendo as abundantes gotas de chuva escorrerem pela janela bem ao lado de sua cama, com as sombras das folhas a lhe tocarem o corpo, adormeceu feito menino pequeno atento a voz da mãe que conta histórias para o filho dormir enquanto alisa seu rosto e em prece o guarda de todo mal pelo simples percorrer de suas mãos com um beijo dando o selamento do feitiço.

No outro dia Aldernatur acordará para mais um dia de trabalho com as mesmas questões rondando o seu peito nos intervalos em que sai para comprar rosquinhas e café ou enquanto tira cópias rotineiras de documentações, mas caminhará.

Caminhará.

quarta-feira, 13 de março de 2013

história para dormir

Era eu novamente em sangue vivo: conseguia em milímetros de gotas em folhas altas de baobás sentir a adrenalina caindo à forma de precipícios em minhas veias que desembocavam no opaco de meu estômago, na frieza crua de minhas mãos e nas movimentações em pedra de minha musculatura. Eu era eu, pura naquele instantâneo.

Iria mesmo assim, com furos em sangue, com medo. Iria mesmo assim.

e fui.

O que encontrei foi a vergonha [com que não sorria e guardava o meu sorriso ritmado em coração dentro da silhueta de meu corpo] de antigamente. Lá, naquele espaço aberto avistei minhas lágrimas de marinheiro só. Parte do mar estava naquela plataforma de pedra pisada de pés descalços, que sorrisos corriam de um lado a outro: e eu observava o vasto daquele momento em pensamento mudo de alma reintegrante.

Perguntei-me se suportaria esse contínuo desafio que é desafiar-se em vastidão de si da qual você me erguia em altos braços todos os dias. Um borbulhar de pensamentos sem pensamento embarga minha voz ao telefone com ti. Eu só queria os teus beijos e teus abraços [teu amor], era disso que precisava para responder afirmativamente a pergunta. E era nisso que consistia a calmaria para tomar em ângulo o teu ser, para não falar palavras impensadas. Mas é em outra calmaria, uma calmaria tua, essa calmaria de beijos tua que o desespero me toma à mente em horas como essa. Eu necessito de ter esse teu amor também. 

Boto em tuas mãos o meu amor.

- você é inseguro e precisa que eu fique inseguro para ficar seguro. [falaste-me]