Páginas

domingo, 13 de fevereiro de 2011

crônicas de um sedento - Parte Um

     Ele não escrevia bem,para ele sua escrita era sinônimo de tentativas,algumas vezes sem gosto,outras vezes,provocantes.Mas,em todas essas,era ele o maior crítico de seus textos.Usava da grosseria,um instrumento divino para a formação de suas palavras.Grosseria que se expressava em pensamentos rápidos,quase fugidios,como ondas que carregavam a grandeza de atingirem a sua majestosa beleza mas que  logo quebravam-se para dar lugar a outra rajada de ventos dos quais também formariam outras ondas,de outras intensidades e finesas.
     A busca por palavras era sempre constante,seu sorriso se enchia de beleza ao deparar-se com seus melhores textos,pois neles via o fruto de seus pensamentos solidificados,mesmo que fossem em uma fraca folha de poucos milímetros de espessura.Mas,quase no mesmo instante,depois de acabado algum de seus filhos,sua inquietação voltava a manifestar-se.Necessitava de escrever,essa era a verdade.Mesmo que fossem letras mal coesas e desconexas.Era disso que alimentava-se,sorrateiro sempre fazia tentativas de observar algum resquício,algum gesto que lhe proporcionasse uma nova clareza de idéias,pois sabia ele,elas estavam ali,adormecidas,apenas esperando um pequeno rugido para acordarem sedentas.
     Declarava-se totalmente desnudo quando seus dias ficavam inertes de leitura.Precisa ouvir a beleza de outros,que assim como ele,buscavam constantemente uma forma de expressar suas dúvidas,concepções ou incertezas,de forma lapidada e concreta.
Sim,uma de suas maiores verdades era a da solidez do pensamento e volatilidade da matéria.Era uma prova de existência,ao pensar,dizia ele,concentra-se uma força tão concreta quanto a de uma colisão de dois glóbulos maciços de vidro.
     A grande quantidade de blocos,infestados de palavras,refugiadas num recanto de sua oficina,davam-no a idéia de acepções livres.E poderiam até ser,para outros sem conhecimento de seu contexto interior.Sabia que aquela grande quantidade de celulose ali,misturada com o pigmento de sua caligrafia,não estava abandonada,ali elas estavam por que eram o fruto de seu treino,pois,assim como um lutador de box esculpe seus músculos fazendo exaustas e repetitivas séries de exercícios,seus caderninhos esculpiam aos poucos suas determinadas e adormecidas teorias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você já chegou até aqui,então comenta !