Páginas

sábado, 5 de abril de 2014

#5 cinematografias de um mundo feito de loucuras escondidas

Laje e cimento são feitos de organogramas terríficos. 
Pensei nisso enquanto olhava para o teto do ônibus. Acendi um cigarro observando distante os rostos das pessoas que afastavam a fumaça que saía de meu nariz. Deixei o vento das janelas assoprar o torpor do tabaco, refrescando as laterais de minhas orelhas, estavam quentes, por razões que convencionei chamar de obscuras por força de hábito de convenções sobrenaturais, ou seja, alguém fala de meu nome em algum lugar deste planeta. Ou também pode acontecer do corpo estar avisando que existem outras inquietudes chamando-me pela pele, o que não era o caso. Que fotos mais lindas e largas daquela exposição, certeza de que não as largaria. Colocaria em paredes brancas também largas e espaçosas na sala do meu apartamento. vem amor, vamos transar mais uma vez na areia inexplorada, depois, é claro, se preferir, posso te fazer massagem enquanto falo frases de músicas clássicas românticas, aquelas bem sertanejas. Coloco até uma caneca transbordando de café para te lembrares que estive aqui. eita, querido, o bolo está no forno, corre que precisamos de prová-lo, coisa boa, provamos o bolo e não lembramos que horas são, aliás, existem dias? espero que estejas gostando de tudo isso, tenho me esforçado deveras para mentir que sou vento e passagem intensa. estava vestido de jornais ensopados de cuspe de bem-te-vi. é uma grande loucura escondida escovar os dentes, colocando a pasta em cima das cerdas da escova ligando a torneira usando aquela água ora desperdiçando pasta e água, ora não desperdiçando, em sentenças de infinitivo: vê, consegue-se, por meio da língua, consubstanciar o findável da prática de escovar os dentes com o infinito que algumas religiões dizem da vida, tudo isso usando-se tempos verbais com substantivos rotineiros; a vida é também feita de  loucuras escondidas. mas, rapaz, caminho de volta para o apartamento, e vejo, sem muito acreditar, um ricochete dourado maquiando a nuvem já vestida de luzes em pôr do sol. um espetáculo pirotécnico num banho-maria mais rápido. embrulhei tudo aquilo e guardei na sacola que trazia os pães. vi mais algumas luzes naquela nuvem, bonitas. continuei a observar, até que árvore tampou-me o campo de visão e revolvi os olhos para o apartamento que já se achegava. ligue o disco por favor, que hoje estou querendo escutar Ney.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você já chegou até aqui,então comenta !