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domingo, 10 de novembro de 2013

Das imagens que não se apagam


Fiquei doente. Pra falar a verdade, tive mais uma daquelas viroses de gargantas. Mesmo sabendo que seu aconchego estava próximo, tomei uma dose de vodca e me rendi à doença. Sabe daquela gente que comete excessos alcóolicos e não adoece? Comigo é de vias opostas, a dose foi única, mas o mal estar da garganta falou-me durante toda a semana, dando avisos de que me abraçaria ainda mais de perto, revolvi meus olhos ao corpo chamando por Deus; vai Senhor, não me deixa desabar, nem plano de saúde eu tenho e o dinheiro desse mês foi embora junto com a vodca e a festa do hallowen.

Comigo é meio assim, como quem é médico e conhece o cheiro típico do catarro e dos sons que ele provoca quando ainda batuca no corpo murchado. Vivo períodos de estiagem, quando a seca assevera-me o coração, peço para segurarem-me os olhos, com aquele mesmo impositivo dos enfermeiros que imobilizam o corpo da criança pequena, ainda apta a bambolear com as pernas, indo e vindo, feito ondas do mar, a diferença é que agora permito que o façam, para ver o cru e o abundante do sol ressoar de interações de luzes fechadas, mormente delineadas pela fome e pelo sofrer da gente que pede para que a chuva deixe de lado o orgulho e venha beijar a falta de água. Olhei com os poros cheios de suor, pergunta-se a alguém se é de boa escolha assumir a doença como uma cura. Se assim fosse, não mais me preocuparia tanto esse pessoal que fuma e bebe a vontade porque mesmo que o cigarro e o álcool sejam impressoras officejet, o dano viria para amenizar a outro de gravidade bem maior visto de olhos bem cerrados por muita gente. Fórmulas são tão boas quanto conta-gotas.

Então eu gosto de repetir a palavra labuta pra dizer do ritmo sem muito sal onde penso que a vida se situa quando noto que o tempo se acomodou nesse período de repetições e não avança, avança, avança, avança. Uma lança? É Caetano chamando a tristeza de senhora, Chico falando que a gente vai levando e Nietzsche me cutucando o sangue e dizendo que a alegria é sim tão complexa quanto a tristeza, fiquei feliz quando li isso na edição do mês de Outubro da piauí.

Deu-me vontade de escrever uma crônica sobre um homem que usa drogas, fuma e bebe quando bem entende, queria contar uma história sobre alguém que sabe das consequências do que faz e mesmo assim comete. Por que tem vontade e acredita, quase religiosamente nesse sangue regularizado por ele quando quer. Lembrei do Quereres, de Caetano, agora fiquei com vontade de escutar, vou dá um pause no novo álbum do Jeneci e colocar Caetano, na voz da Bethânia, enquanto continuo por essas entrelinhas, depois volto pro Marcelo, ou não. Minto. Resolvi escutar na voz de Caetano mesmo, com a Gadu, mudar um pouco.

Dia desses achei uma pergunta no pensamento dizendo-me sobre de que era feito meu universo simbólico, não recordo se a direcionei primeiramente ao eu ou se foi só depois de ter imaginado fazendo-a a algum paquerinha que inicio um primeiro contato. Talvez a segunda opção, até porque gente fugidia gosta de imaginar situações onde quem faz as perguntas e quem comanda é ela. Feito olhar desatento caminhando pelo centro da cidade entre ruelas e comércios entrincheirados de anúncios, imagens e impressões vagabundas afixadas nas lojas, dou um freio no passo, já dopado da atmosfera, por causa de uma barbearia, ponto já antigo da cidade, nota-se logo pelo alinhado das roupas dos senhores barbeiros, tesouras feitas do desgaste de uma estrada longa de cabelos, o descascar da mobília e os pontinhos pretos, já fundidos num lago-mancha preto nas extremidades dos espelhos, adentro como quem diz que não vai se demorar, até minha observância se transformar numa estadia ao compasso do massagear e cortar de meus cabelos; passei, parei, fiquei e divaguei: de que é feito meu universo simbólico?

Recordei da infância, é lá onde construímos boa parte dos símbolos. Valores são estruturados, quantidades começam no movimento de relevância ao redor das coisas, pessoas, palavras, atitudes, cheiros, sons, cores...boa parte é de lá, e nossa leviandade é mestra em censurar a criança na fase adulta. Tento escutar músicas novas com alguma regularidade, bordo num pano branco com linhas coloridas e vou descobrindo que o mar pode ser bordado de rosa também, junto com o azul. 

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