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domingo, 17 de novembro de 2013

sobre tecer fios

começo dando nome ao texto porque me é nítida a figura do trabalho manual de tecer fios, um por cima dos outros, de forma ordenada ou não, quando se recorre a abstrações da vida futura. é assim, a gente chega só com um pedaço de linha, depois com um esforço maior adquire uma agulha e, sem querer, por uma sorte daquelas de quem acha dinheiro no bolso, obtém um pano pra começar na tecelagem de fios. os fios vão se entremeando e você vai adquirindo mais cores de linhas, depois de um tempo até consegue organizar um degradê, meio tímido, mas de ser notado, de cores. e o fio que era só azul, nem fio você supus ser quando o vê já difundido entre os outros fios azuis, desembocando numa outra cor. no começo era só você e o fio, com um punhado de esperança na mão, de olhos costurados numa fixidez apontada para qualquer movimento que a terra fazia naquele momento. daí você vai parando de olhar para o lá da frente porque, com as duas ou três tecelagens que você já tem, já te falaram ao peito que são belas enquanto estavam sendo feitas. começas a gostar do silêncio que faz entre o teu presente de fios em construção e o futuro de fios terminados. apaga o cigarro, volta a dormir, amanhã tem mais.

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